sábado, 27 de dezembro de 2014

Auto-Modelar não, Alto Modelar!


Modelamos diariamente nossos sonhos para caber em expectativas que, em muitas vezes, nem nossas são. Hoje essa frase ecoou na minha mente após a conversa com o Senhor Carlinhos. Atualmente dorme em um cômodo numa pensão de mais seiláquantas pessoas. Mas como ele mesmo disse, apenas dorme, pois ele mora é na rua. Carlinhos tem um buraco com pus na cabeça, foi um tiro. Carlinhos sobe a rua da minha casa praticamente se rastejando. O seu pé direito parece uma bola gigantesca de futebol, perdeu o movimento junto com o braço direito.... Ainda não perguntei o que é. Carlinhos se emociona todos os dias que para em frente de casa pra me contar dos filhos dele. Ele sente saudades mas sobre o que me diz...Ela não é recíproca. Carlinhos me contou várias histórias tristes mas, mesmo assim.... No final de todos os dias que conversamos ele me fita fundo, com os olhos brilhantes de quem gosta de atenção, esbanja um sorriso meio à cara barbuda... Pega na minha mão em forma de agradecimento e vai descendo o "morro" como ele preferiu chamar a enorme descida de casa. Carlinhos reza. Mas reza em silêncio... E como ele disse hoje mesmo... "Se eu não morri até hoje, com um tiro na cabeça e com tantas doenças... Se já perdi meus pais da Terra... Quem me olha é o Deus ali de cima. O nosso pai... E Lê... Ele também olha por você" Obrigada, Carlinhos.
Por hoje é o que eu precisava. Carlinhos não modelou a vida dele por ninguém. Ele é malandro, como ele mesmo preferiu dizer, ele é um cara errado. Mas tem a consciência dos seus erros. Já foi preso e atualmente agradece por estar na sua situação que se encontra, diz que assim é bom pra não fazer coisa errada. E desculpem-me os descrentes... Como não acreditar em um bem maior? Como não acreditar em um Deus que nos dá tudo o que precisamos para nos moldar? Não precisamos fazer isso por ninguém... Não precisamos nos mudar a não ser por nós mesmos não é, Carlinhos? 


sábado, 20 de dezembro de 2014

No Intuito Noturno de Amar.


Primeiramente lapidou meu olhar. Creio que foi justamente para caber no dela e então quando me fitou profundo, engoliu-me sem dó. Apertou minhas mãos com um creme que cheirava rosas, ou eram as rosas que habitam seu jardim interno exalando indiscretamente pela sua respiração ofegante? Ofuscou toda a tristeza e ainda trouxe a sobremesa: Quero comer! Apertou minha coxa e então amaciou seus lábios suaves aos meus: Quero viver! Choveu teu corpo ao meu... Da seca tenho pena: Faleceu. 
A porta está fechada
A Janela sempre aberta
Por favor,
Ouse pular.

Um punhado de flores amarrado aos dentes
Gosto de te acariciar com meus dedos desajeitados
Mas hoje garota,
Preciso também mordê-la


Vá embora novamente 
Não se esqueça que é pela janela
Se pensar em voltar, não volte
Mas
Se voltar sem pensar,
Fique. 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Última vida


Vestido longo colorido cobriam seu corpo esbelto. Entre risadas jogava ombros e quadris de um lado para o outro. Cabelos longos e meramente ondulados alcançavam o centro das suas costas. Ela era tão leve e solta, que quem parecia a conduzir era o vento. Final de tarde agradável, mas a morena dançando ofuscava o glorioso  pôr-do-sol. O seu povo em volta, deixando-a no meio do círculo humano, batiam palmas saudosas e sentiam correr nas veias uma felicidade explosiva. Eram jovens, crianças, idosos, todos os credos e cores, todos os cheiros e sabores. Todos necessitavam da energia que esvaia da morena que, embora soubesse o quão estrela era, achava mais sentido ser cadente e por onde andasse, pela terra que passasse, tratava de realizar o pedido do seu povo. Era rainha sem coroa, era princesa sem salto. Era mulher de vestes simples e pés no mato. Era enviada dos céus para espalhar boas energias e o seu sorriso matava calado todo e qualquer mal olhado. Em milésimos de segundos ela limpava o ambiente e abençoava também o povo descrente. Evolução era o teu pedido, Amor a tua ordem. Dizia:  "Fazer o bem para quem é do bem e um bem maior  para quem ainda não é!"

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

É preciso abrir

A luz é o espetáculo da alma que minuciosamente inspira quem se deixa enxergá-la. Não digo pois, que são desprovidos de visão quem não a enxergue, mas sim, sofredor de pálpebras fechadas. Atente-se aos detalhes, enxergue não apenas por ter os olhos abertos, trate de abrir o coração, abrir o sorriso, abrir o punho, abrir os braços. Abra a mente também e delicie-se na magia que é o sentir. Sentir a bondade, sentir a pureza, sentir de verdade e unicamente o sentimento que reerguerá toda a humanidade e nos levará de uma vez por todas, por todos os séculos que virão a um só destino: O Amor!  

domingo, 9 de novembro de 2014

Sinônimos


Ajoelhei aos seus pés mas mantive a cabeça esticada para avistar sua face. As mãos escondidas atrás do meu corpo era para que seus olhos não enxergassem o que lhe trouxera. Tudo bem, não era nada muito caro, mas valia mais que qualquer presente comprado com papel em reais. Ela me olhava ao sorrir de um jeito como quem sabia que eu estava prestes a aprontar algo. Dizia: "Letícia, você não vale nada!" Na frente desse sorriso e desse olhar, eu não valia realmente nada! O brilho do seu olhar me ofuscava e eu me esquecia até de mim. Esquecia do horário, esquecia onde eu estava. Esquecia o que falar. Então olhava ao  meu redor... O lugar era maravilhoso, um enorme lago refletia o sol... O sol refletia a paz que nós transmitíamos quando juntas. O planeta era mais feliz com o nosso amor, agradeçam-nos, de nada! Essa morena na minha frente é a mulher que eu sempre procurei nos meus textos perdidos. Ela é a poesia da minha vida, sabe? Aquela pessoa que entra no seu caminho e você para até pra agradecer todos os outros relacionamentos que sofreu anteriormente. Tudo fez mais sentido quando eu peguei aquele ônibus em um sábado à tarde para ir atrás de uma garota que até então não conhecia. -Não nessa vida, mas em todas as outras, provavelmente- Passei por cima de muita coisa pra seguir em frente, mesmo que a principio inconscientemente, mas me deixei levar pelos meus instintos. E a música do Teatro Mágico ganhou sentido "É ela, quem eu quero para mim, Da Terra, do porto, da capela" "Letícia, para de me enrolar, deixa eu ver o que você tem aí..." Lentamente fui tirando o braço escondido. Eu trazia rosas brancas, plantadas, regadas e colhidas por mim mesma... Dia após dia, cultivando-as com o meu maior carinho e dedicação, para que quando estivessem bonitas e carregadas de paz, eu as colhesse e entregasse. Levantei-me ao bater a mão no joelho e tirar os vestígios da grama atoa, pois, segurei sua face e beijei-lhe ternamente, e na grama deitamos, sujando assim, a ex roupa limpa. Afetadas com tanto afeto, exuberantes sem qualquer vestígio de escrúpulos, nos tornamos mulher e mulher. Naquele pôr-do-sol abençoado, abençoamo-nos. Sem aliança, sem padre nem madrinha. Eu e ela... Ao cantar dos mais belos anjos, nos tornamos sinônimos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Rainha


Não sei por quantos dias ainda irei viver
Nós nunca sabemos
Mas eu tenho a certeza de que a cada respirada que meu pulmão aguentar
É você em quem eu vou pensar.
No seu sorriso proveniente de uma inocência única
No modo como você se esforça para me fazer feliz.
Ou não se esforça?
Parece ser natural.
O modo como nosso abraço se encaixa feito quebra-cabeça modelado
E a sua voz sussurrando ao pé do meu ouvido:
"Eu vou te fazer sentir a melhor sensação da vida"
"Duvido", já ousei hesitar algum dia.
Enquanto você está a três horas de distância 
Trancada no meu quarto ao som da chuva
Eu profetizo, amor:
Você de vestido branco
Com os pés no altar
Nossos olhos esbarram entre si e ecoam no mar
O seu cabelo moreno ao vento
Um só pensamento:
Eu te quero por todas as vidas que eu viver
Por todas as vidas que eu morrer
Por toda a eternidade de um ser
Por todo mínimo sopro que houver
Por toda mínima gota que cair
Serei para sempre a tua mulher.



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Fantoche


Eu cobri a face com o véu transparente e olhei para a Lua Cheia. Cheia também estava a igreja, a porta encostada não era obstáculo para minha curiosidade. Enquanto eu tremia internamente o vento fazia meu vestido balançar. O fotógrafo não perdia nem um respirar e eu respirava ofegante. Quantas situações a vida nos coloca, não é mesmo? Estou prestes a dizer todo aquele texto repetido que termina com um selar de lábios... A troco de quê?! Ele não é o homem da minha vida. Não é por ele que eu suspiro leve. Não é ele que me faz sorrir. Ele é um cara bacana, tem suas qualidades... Mas não posso nem por um segundo imaginar como seria ter que acordar ao lado dele todo santo dia. Lua de mel? Dor de cabeça na certa! A troco de quê estou fazendo isso? Será mesmo que vale a pena? Deixar minha mãe feliz. Ou melhor, o que ela julga ser a felicidade. Uma felicidade projetada em cima das minhas costas. Apresentar um sogro para a família, dar netos, comprar uma casa com jardim e adotar um cachorro. Enquadrei-me nos planos perfeitos da minha mãe. "Ou será assim, ou você finja que eu não existo." Você existe mãe... E enquanto vejo você chorar de felicidade pelo vão da porta encostada da igreja, sinto o meu corpo travar. Sinto a garganta dar nó. Sinto vontade de dizer: Não. 
Mas
O violino
Já está chorando.