domingo, 9 de novembro de 2014

Sinônimos


Ajoelhei aos seus pés mas mantive a cabeça esticada para avistar sua face. As mãos escondidas atrás do meu corpo era para que seus olhos não enxergassem o que lhe trouxera. Tudo bem, não era nada muito caro, mas valia mais que qualquer presente comprado com papel em reais. Ela me olhava ao sorrir de um jeito como quem sabia que eu estava prestes a aprontar algo. Dizia: "Letícia, você não vale nada!" Na frente desse sorriso e desse olhar, eu não valia realmente nada! O brilho do seu olhar me ofuscava e eu me esquecia até de mim. Esquecia do horário, esquecia onde eu estava. Esquecia o que falar. Então olhava ao  meu redor... O lugar era maravilhoso, um enorme lago refletia o sol... O sol refletia a paz que nós transmitíamos quando juntas. O planeta era mais feliz com o nosso amor, agradeçam-nos, de nada! Essa morena na minha frente é a mulher que eu sempre procurei nos meus textos perdidos. Ela é a poesia da minha vida, sabe? Aquela pessoa que entra no seu caminho e você para até pra agradecer todos os outros relacionamentos que sofreu anteriormente. Tudo fez mais sentido quando eu peguei aquele ônibus em um sábado à tarde para ir atrás de uma garota que até então não conhecia. -Não nessa vida, mas em todas as outras, provavelmente- Passei por cima de muita coisa pra seguir em frente, mesmo que a principio inconscientemente, mas me deixei levar pelos meus instintos. E a música do Teatro Mágico ganhou sentido "É ela, quem eu quero para mim, Da Terra, do porto, da capela" "Letícia, para de me enrolar, deixa eu ver o que você tem aí..." Lentamente fui tirando o braço escondido. Eu trazia rosas brancas, plantadas, regadas e colhidas por mim mesma... Dia após dia, cultivando-as com o meu maior carinho e dedicação, para que quando estivessem bonitas e carregadas de paz, eu as colhesse e entregasse. Levantei-me ao bater a mão no joelho e tirar os vestígios da grama atoa, pois, segurei sua face e beijei-lhe ternamente, e na grama deitamos, sujando assim, a ex roupa limpa. Afetadas com tanto afeto, exuberantes sem qualquer vestígio de escrúpulos, nos tornamos mulher e mulher. Naquele pôr-do-sol abençoado, abençoamo-nos. Sem aliança, sem padre nem madrinha. Eu e ela... Ao cantar dos mais belos anjos, nos tornamos sinônimos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário