quarta-feira, 3 de julho de 2019

São Paulo, 2019

Para ser mais específica, Tietê. O trânsito caótico de final de expediente. Todo mundo correndo pra chegar em casa. Pra pegar o filho na escola, pra fazer a janta, alguns pra estudar, outros para fazer algum exercício e claro, quarta-feira tem os que preferem relaxar na TV com uma lata de cerveja qualquer. Na muvuca, buzinas e poluição tem uma família andando a pé na marginal. Pude olhar pelo vidro do carro. Bem... Tempo eu tive. Um homem, uma mulher e quatro filhos pequenos. Todos de chinelo no pé e malas grandes nas mãos. O  pai além da mala, carregava em seus dedos sanitos pretos. Parecia estar pesado. Os olhares deles eram de perdidos. O da mãe era de "Que mundo é esse?". O dos filhos eram de muito cansaço, cara emburrada de quem deixou amigos para trás. O olhar do pai é o que mais me instigou: de esperança. Não sei de onde eram, mas definitivamente não daqui. Não sei pra onde iam, mas arrisco dizer que ainda tinha chão. Provavelmente vieram atrás de alguma oportunidade por aqui. O sonho do emprego na cidade grande. Na minha mão, um jornal: "A taxa de desemprego total na Região Metropolitana de São Paulo ultrapassa 15%". Os filhos da pátria mãe gentil soltaram-se de suas raízes secas atrás de terra fértil na cidade cinza. Só pude, ali do carro, desejar de longe uma boa semeada à família, que viu na cidade caótica: abrigo.