segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O verdadeiro motivo de possuir olhos perdidos


Entrou no táxi e decidiu que não olharia para trás. Sorriu para o taxista ao desejar bom dia e encostou a cabeça no vidro gélido. "Para o Aeroporto, por favor". A mala era mais pesada que ela e felizmente continha rodinhas. Achava poético as gotículas de água no vidro. Algumas estagnadas, outras escorridas...Porém, todas poéticas. Ed Sheeran nos fones de ouvido a encorajava e o fato de não ter virado a cabeça para avistar sua casa, sua rua, seu bairro sumindo por entre os caminhos já era um bom sinal. "Quantas novas histórias ainda poderei colecionar?" "Quantas você for capaz de viver, menina..." Ela perguntava, ela respondia... Tudo simultaneamente dentro do seu ser. As árvores balançavam na chuva, um dia ótimo para iniciativas certeiras. Não havia avisado ninguém. Um bilhete enfeitava a sala de estar dos seus pais "Fui até ali me encontrar, não se preocupem. Amo vocês". Os fios esticados no céu nublado, o fusca branco ao lado, as gaivotas procurando abrigo e a menina dos olhos perdidos. Tão perdidos que sentia necessidade de escrever mil histórias para se enquadrar nas mesmas. Tão perdidos que queria poder estar em três lugares ao mesmo tempo. Tão perdidos. Tão profundos. Tão humanos. Pagou o taxista e o deixou ficar com o troco quando ele disse "Eu não sei para onde você vai, mas posso te dizer que o seu sorriso sempre te guiará para lugares maravilhosos" E por mais que ela corasse a face sempre que  elogiassem seu sorriso, ela agradecia. Não só a pessoa no qual a elogiou, mas também aos Céus por saber reconhecer a graça da vida. A graça da vida era essa: Eram os fatos do cotidiano. Era saber apreciar os fios no céu, as gaivotas voando, o fusca adesivado ao lado. A graça da vida era fazer uma mala e ir atrás de novas pessoas, novas histórias, novas vivências. A graça da vida era poder estar. Digo, deixar-se estar. Estar em paz, estar vibrando amor ao mundo.  Mesmo com os olhos perdidos... Porque se os olhos se perdem tanto, é de tanto se encontrarem em pequenos detalhes ao redor.

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