segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Quando eu me encontrar com Jesus

Ao redor há muitas árvores grandes e fortes. Há muitas flores de cores variadas, mas a maioria são cores claras: Rosa bebê, azul, amarela! Confesso que muitas flores e vegetações nunca havia visto antes. O sol vai cortando por entre as folhas. É o sol da manhã. Gostaria de saber o horário, mas não tenho relógio e aparentemente não tem ninguém por perto. Mas o fato de não ter pessoas ao redor, me deixou mais atenta para reparar no cantar dos pássaros! E quantos eles são! Alegres, vivos, livres! Eu estou descalça com os pés na grama, queria me lembrar como cheguei até aqui, mas não consigo me recordar do trajeto... Queria trazer todo mundo que eu amo. Começo a sentir meu coração quentinho ao pensar nos meus familiares... Mas ao mesmo tempo que vou pensando neles, na minha mente vai aparecendo imagens de momentos e pessoas que eu não sei ao certo quem são, mas como fazem meu coração pulsar! A vida, uma vez me disseram, é como um colar de pérolas... Brilhante, valiosa, mas delicada. E quando esse colar por algum motivo se solta, a passagem é realizada. Aos poucos vou me recordando quem sou eu. O verdadeiro eu interior está se sentindo leve. Reconheço que retornei a minha morada. A minha verdadeira morada. Penso em uma música que amava colocar quando realizava Evangelho no Lar em casa e num toque de mágica ela começa a tocar pelos ares. O barulho do piano parece estar vindo dos céus. Uma luz azul com violeta vem descendo das nuvens. E a medida que vai chegando, vai derramando raios pratas. Intensidades que ao mesmo tempo que fortificam, transmitem serenidade, aconchego e amor. Reconheço a presença Divina. Sinto-me honrada, e cá entre nós, senti até que não merecia tanto! É nosso amigo e amado Mestre Jesus. Estendendo-me a mão e me dando boas vindas ao lar. Eu choro muito. De felicidade, é claro. Ele enxuga minhas lágrimas, uma a uma, abraça-me. Levanta a mão direita aos céus. Ao seu comando desce uma Nave que nos puxa levemente para dentro. Eu vou, amigo amado. Vamos para casa!

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

K.M.

Eu vou escrever um texto para você. Um texto que você nunca saberá. Nunca lerá. Eu nunca me entregaria tão fácil. Ainda lembro de você abrindo a porta do carro para que eu entrasse. Lembro de eu te zoar de cavalheira. Lembro de você dizer que sempre seria assim comigo. Lembro dos nossos olhos se encontrando. Se embaraçando feito nó. A gente caia em nós mesmas. Como não lembrar da nossa respiração se fundindo? Ou como não lembrar da vontade de te foder? Do dia no bar da calçada, do carro em frente a uma árvore. Do calor. Dos corpos. Da gente. E nem foi nada ainda. Mas ainda lembro e lembro muito. E lembro de tudo... Lembro da caipirinha de amora, das músicas compartilhadas, das nossas histórias no tempo da infância. De todo um livro que poderia ter virado mas que, com medo, eu preferi não escrever. Ora, Ora, eu tenho medo de muitas coisas: Do escuro, da solidão.... Não se espante não. Mas guardo com carinho, todo o afeto um dia trocado. O reencontro dos que nunca partiram, e nunca partirão.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Levantar

Eu vou te contar a história de um garoto que conheci nas ruas do centro da cidade. Bem ali, nas escadarias da igreja -que me desculpem, eu não me lembro o nome- eu estava com os fones de ouvido, com uma canção -que me desculpem, assim como a igreja, também não lembro o nome-, e no sofrer da música que eu cantava internamente, quem olhasse minha face, poderia ver que não tava tudo bem. E ele viu. Primeiramente fitou-me ao longe, ao ver que eu o olhei de volta, seguiu com passos sujos no chão quente, porém cautelosos. Pouco a pouco. Sentou um tanto que longe, mas ainda me espionava... O garoto deu um sorriso largo. Tirei os fones pra ver o que ele queria, no que ele começou:
- Tá tudo bem?
- Tá sim e com você? - A gente sempre responde isso automaticamente, né?
- Achei que cê tava triste, aí vim perto pra te contar uma piada
- Foi só uma música... Mas aceito a piada.
- Inda bem que cê num tá triste, por que eu só sei uma que ninguém nunca ri. O que o tomate foi fazê no banco?
- Eu sei lá!
- Foi tirar extrato! - Ficou me olhando com a cara de quem sabia que eu não riria. Dei um sorriso amarelo e disse:
- Qual teu nome?
- Henrique da Silva Ferraz, mais ferrado que o Satan.... Opa, é melhor eu não falar disso na frente da igreja! - Disse ao fazer o sinal da cruz.
- Oras, Henrique... Devia dizer isso em lugar algum. Estais em pé, estais a tentar fazer os outros rirem, mais vale um pé sujo do que a consciência.
- Concordo plenamente, Dona, vou parar de dizê isso. Mais vale um batom sujo do que a consciência. - Disse apontando pra minha boca.
Limpei o lado da boca que ele havia apontado. Minha mão borrou-se com o vermelho. Ele prosseguiu
- Precisa ficar sem graça não. Achei que quando os adultos se beijassem eles ficassem felizes e não tristes;
- Henrique, foi um beijo de adeus...
- Oh sim, desculpa eu, dona. Meu pai vive falando que minha mãe antes de partir não deu nem um beijo nele. Ele traiu ela, e quando ela morreu estava em outra cidade... Partiu sem um beijo. Então um dia a tia Elvira me disse pra eu não ficar triste, que minha mãe está com Deus. Ela não disse como chega nesse Deus. Desde então eu já estou na terceira cidade, na vigésima igreja atrás dela, mas achei não.
- Henrique, Sua mãe está com Deus. Deus é o todo... Logo sua mãe estará em todos os lugares quando você pensar nela. É só fechar os olhos e imaginar que você está a abraçando.
- Se é tão fácil assim, por que você ao invés de ficar triste após o beijo de despedida você só não fechou os olhos e imaginou?
- Por que o meu ex não está com Deus....
- DEUS ME LIVRE, ELE ESTÁ COM O SAT...
- Não, Henrique, ele só não foi para o outro lado ainda entende? Ele só me deixou.
- Não fique triste então, o que me disse, vale pro cê também.. " estais em pé, estais a tentar fazer com o que os outros rirem"...? Alegre-se! Completo dizendo que estais viva e que agora que me disse como chega até o tal Deus e até minha mãe, eu posso retornar para casa da tia Elvira.

E foi assim que saí do centro da cidade até a rodoviária com o meu mais novo amigo, Henrique.
Foi assim que eu provei pra mim mesma que Deus está em todos os lugares.
O Henrique me levantou naquela tarde, e eu o levantei.
Nos levantamos juntos.
E assim todas as pessoas que se esbarram, que conversam, que se afagam com as palavras e com os olhares se levantam.





Ciclo rotineiro

Desejou boa noite ao entregador de pizza e voltou ao elevador.
Sétimo andar, terminou o vinho
quente.
Comeu ao esfriar

Ao deitar-se ligou o ventilador
Calçou as meias até o joelho
era a única veste

Concentrou-se nos afazeres do dia seguinte
acabou pegando no sono
as 05:50 tocou o alarme
estendeu-se até 06:20

Café preto na padaria da esquina
Almoçou um fast food
O serviço ia, ia, ia
sem fim, não acabava.

O metrô na volta
A lotação ao redor
O bolso vazio

Contou os miúdos em casa
Restou-lhe pedir a última pizza

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Esquecidos

Esse é um texto para os atuais esquecidos. Oras, todo mundo, em algum momento da vida já se sentiu esquecido por alguém. Por alguém que não é qualquer pessoa. Se fosse, seria um tanto faz em caixa alta. TANTO FAZ! Mas quando a gente sente, é justamente alguém que mexe com as estruturas internas.
Digo "atuais" esquecidos, pois para ser esquecido, um dia já foi lembrado. Um dia já viu o afeto e o tato. De perto, tão perto que faltou o ar. Tão perto que eita, se fosse mágica a gente descobriria o truque à olho nu.
Nus também já estiveram de pele, de corpo... Mas e de olhos? E de peito? Quando a gente despe as almas e elas se curvam e se entrelaçam não há de haver esquecimento.
Esse texto é para os atuais esquecidos. Existe alguém que vai fazer teu coração dançar, despir o que te cobre as curvas e esticar os cantos dos lábios. Vai tirar sua alma pra bailar. Vai te olhar no fundo dos olhos e vai mergulhar à fundo em você
Então você entenderá que caralho, que bom ser esquecido por quem só tirou a roupa e o riso.
Então você também esquecerá.
E essa é a vida: dos atuais esquecidos e das eternas doces lembranças.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Relato de uma Coroinha

O sinal da cruz antes de subir os vários degraus à frente. Os bancos estavam vazios, respirou fundo aliviado. Avistou o confessionário ao canto. Entrou. Discorreu chorando sobre o que acabara de cometer minutos atrás antes de correr até a igreja. Finalizou: Dessa vez foi a última, seu Padre. - Ao que responde: Você havia dito o mesmo na semana passada, vá e não peque mais. 
Ciclo vicioso que ocorria todas as manhãs de segunda-feira. O padre já desgostoso com a situação, escondeu o confessionário aos fundos. E no lugar, deixou um púlpito com um microfone e convidou a comunidade para uma missa especial de início da semana. Pois o rapaz fez o sinal da cruz, subiu os degraus, olhou a igreja lotada, vagou o olhar a procura do confessionário. Hesitou. Subiu ao púlpito e puxou o coro: Hosana nas alturas. Foi embora mais contente do que nunca e nunca mais confessou. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Enquanto se faz silêncio

Tudo o que me foi calado
Desde a infância até o doutorado
[sei que ainda demorará]
da garganta sairá.
Aviso com antecedência pra não chocar a sociedade:
ABUSO contra a mulher: sangra por todas as cidades
O pano encoberta a sujeira
Cobre o pó
E os restos
Mas o grito alcança
Desmancha
Deixa vir a tona:
Tem muito homem de família que devia ir pra cana