
O caminhão de gás passa até hoje e sua música ainda é a mesma de doze anos atrás.
A música me trás um certo tipo de nostalgia e me perco dentro de mim em memórias passadas. A vovó era viva, mas a diabetes já havia lhe tomado a visão, mesmo com muita dificuldade ela tentava desenhar gatos numa folha de papel para me interagir.
- Vovó, a cabeça do gato está na barriga dele!
E ela ia fazendo vários até sair um mais certinho para me satisfazer.
Ela não enxergava mas ouvia muito bem, como por exemplo, quando eu corria apressada e amedrontada para seu joelho na varanda e ela dizia:
- É só sua mãe na cozinha com o liquidificador... Ele não vai te morder!
Ela não enxergava mas era bem espertinha! Pedia para eu pegar água do filtro pra ela, mas a da torneira era mais fácil, já que eu era baixinha, mas ela sempre sabia quando eu pegava a do lugar errado!
Na sua última fase encarnada, ela ficou um tempo internada no hospital...Vovó não me enxergava mas eu ia sempre enxergá-la... Bem de longe! Eu era muito novinha e não podia subir até seu quarto no hospital, então ela ficava abanando a mão e sorrindo na janela, enquanto eu, lá embaixo, ficava com meu binóculo vermelho que guardo até hoje.
E se alguém lhe disser que as coisas mudam, acredite, pois agora vovó me enxerga enquanto eu apenas a sinto!
ps: Primeira foto minha que coloco em uma postagem, wooh-hoo.