segunda-feira, 13 de julho de 2015

Encontro metricamente calculado


Pegou carona com o primeiro estranho que parou e por sua sorte estava com os braços esticados não tinha mais que sete minutos. Mochila pesada, consciência nem tanto. "Para onde você está indo?!" Perguntou o estranho de barba escura. "Para o mesmo lugar que você." Respondeu a menina de calças largas. "Mas você não sabe para onde eu vou..." Ele riu. "Eu só quero sair daqui!" Insistiu.
Ela suava. Ele estalava os dedos no ritmo da música "Girls Just Want to have fun" "Você só quer se divertir, não é mesmo?!" Olhou-a ao sorrir enquanto as lágrimas começaram a deslizar pela face da menina... Uma pausa breve e densa tomou conta da situação, tudo o que se podia ouvir era o soluçar doído que se esvaia da garota e a música ao fundo... "Por muitos anos da minha vida tudo o que eu pude pensar era isso, hoje eu só quero ir embora"  True Colors começou a tocar e foi inevitável a garota segurar o comentário "Fanzasso de Cindy Lauper mesmo, não?!" Conseguiu sorrir. O moço olhou o horizonte, o sol ia caindo avermelhado, uma cena de aplaudir... E o garoto como quem queria soluçar, disse baixinho "Minha mãe... Minha mãe tinha todos os CDS e quando a vida a tomou de mim, a única coisa que eu quis levar comigo foi a sua coleção.... Era o que mais a deixava feliz... Sentar na rede da varanda com um vinho barato ao som de Cindy Lauper enquanto meu pai ficava sentado no chão paquerando-a todos os dias como se fosse o primeiro encontro....É assim que eles se amavam... " Quis chorar mas optou por sentir aquele nó apertado... De alguma forma sentia-se vivo e isso por hora, era o suficiente. 

Tristezas diferentes, talvez tenham pesos iguais... Já parou para pensar nisso? Afinal, o que importa não é a situação em foco e sim quem é que está passando. Tem gente que corta o dedo enquanto descasca cenoura, lava a mão e continua. Tem gente que corta o dedo enquanto faz a mesma coisa, chora e deixa tudo pra outrora. Tem gente que passa a vida inteira com medo que algo o faça sentir a mesma dor do qual um dia o feriu tanto. Os dois choravam feito crianças... Ela queria fugir da sua família, enquanto ele queria ter a sua de volta. Situações opostas, dores igualáveis, Cenas cruzadas. Você acredita em acaso? Eu prefiro acreditar em encontro metricamente calculado pelo destino. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário