Em apenas uma hora, numa estação de trem, milhares de pessoas vão e vem. Muitas despojadas, algumas arrumadas. Tem as de face serena, tem também as que visivelmente não estão num dia bom. Por sorte do mundo, tem as de sorriso aberto que por onde passam, deixam suspiros encantados.
E eu pensava em tudo isso sentada em um ponto de ônibus, sozinha. Eu não estava numa estação de trem, não haviam milhares de pessoas, mas de fato, eu já estava ali por um pouco mais de uma hora. Três ônibus perdidos. Um turbilhão de vontades guardadas ocasionalmente no bolso. Uma pergunta que martelava na cabeça: Quantas vezes vamos cair na mesmas armadilhas? E a dor de não achar uma resposta convicta comprimia o peito. E eu fico sempre nesse paradoxo entre o amor e dor. Eu pensava num sorriso gostoso e ficava feliz e outro pensamento me roubava a cena, deixando-me triste. Eu não sei de muita coisa. Sei que em apenas uma hora se passaram três ônibus. Três oportunidades de voltar pra casa. Deixei passar porque nem assim, me sentiria em mim. Uma hora passa também toda essa dor. Uma hora passa um sorriso. E se todos esses pensamentos não passassem de meros devaneios, se de fato, eu tivesse a quem esperar... Eu perderia quantos ônibus fossem preciso. Mas estava a vir o próximo e quem vive de incertezas, automaticamente deixa de viver! Estiquei os lábios junto com o braço e subi no ônibus vazio.